Medo e mitos em torno do tema contribuem para que familiares não autorizem o procedimento

Foto: Jimmy Christian/Secom

A Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) alerta para a importância de se tornar um doador, gesto que vai fazer a diferença na vida de pessoas que aguardam na fila nacional, por um transplante de órgão. No estado, os transplantes de córneas, fígados e rins apresentaram queda, e o principal fator tem sido a recusa das famílias em  doar órgãos.

A secretária de Estado de Saúde, Nayara Maksoud, ressalta que a disposição das famílias em autorizar a doação de órgãos é um desafio que vem sendo enfrentado em todo o país. As razões apresentadas pelos familiares são as mais diversas, incluindo medo e mitos que precisam ser derrubados. O ideal, diz ela, é deixar registrado e comunicar à família sobre o desejo de ser um doador. “Trata-se de um gesto simples, que pode salvar a vida de alguém que espera por um transplante”, afirma.

De acordo com a Central de Transplantes da SES-AM, em 2022 foram realizados 116 transplantes de córnea no Amazonas, contra 90, em 2023. A captação de órgãos sólidos (fígado e rim) também teve queda em 2023, em comparação ao ano anterior. Em 2022, foram realizadas 40 captações de rins. Em 2023, a Central conseguiu captar apenas três fígados e 10 rins.

Conforme a Central de Transplantes, muitas famílias recusam a doação de órgãos, por não entenderem o que é a morte encefálica – quando acontece a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro. É nesse momento que os órgãos precisam ser retirados para doação. O tempo é crucial, já que os órgãos precisam ser preservados.

A queda no número de doações, conforme avalia a Central de Transplantes, se acentuou em todo o país ainda como reflexo da pandemia de Covid-19, que mexeu mais ainda com o estado emocional das famílias. 

Segundo a Enfermeira Helem Figueiredo, responsável pelo setor de Doação de Órgãos no Hospital e Pronto-Socorro Dr. João Lúcio Pereira Machado (HPSJL), onde ocorrem 80% das doações no estado, é essencial reforçar a importância de comunicar à família sobre o desejo de ser um doador.

“A resolução federal é bem clara. É a família que autoriza a doação de órgãos. Então, a pessoa tem que informar o familiar, tem que deixar claro em vida que é doador de órgãos, porque somente assim podemos ter o aumento da doação de órgãos no Estado”, relata.

Conforme o artigo 3º da Lei nº 9.434/1997, a retirada de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes depende da autorização da família.

Foto: Jimmy Christian/Secom

Transplantes no Amazonas

De acordo com a Central de Transplantes da SES-AM, as doações de órgãos, a partir de doadores falecidos no Amazonas, iniciaram em 2011. Desde então, foram captados 223 órgãos sólidos (rins e fígados). Já as captações de córneas (tecidos) iniciaram em 2004, totalizando até o momento 2.340 mil transplantes. Atualmente, 70% dos doadores amazonenses são moradores dos municípios do interior do Amazonas.

A captação de órgãos acontece nos hospitais e é comunicado à Organização de Procura de Órgão (OPO), quando há um paciente com morte encefálica. A OPO vai ao hospital e examina o doador, revisando a história clínica, os antecedentes médicos e os exames laboratoriais.

A viabilidade dos órgãos é avaliada, bem como a sorologia para afastar doenças infecciosas e a compatibilidade com possíveis receptores. A compatibilidade entre doador e receptor é determinada por exames laboratoriais. A posição na lista nacional para o transplante é estabelecida com base em critérios como tempo de espera e urgência do procedimento.