Obra apresenta narrativas do povo Tikuna no Alto-Solimões, maior população indígena da América Latina
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Lançado originalmente nos anos de 1980, a coletânea “Torü Duü’ Ügü – Nosso Povo” ganhou nova edição e organização a cargo do integrante do Centro de Estudos Superiores de Tabatinga da Universidade do Estado do Amazonas (CESTB/UEA), Pedro Rapozo, e dos pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Pacheco de Oliveira e do Museu Magüta, Santo Cruz Pucüracü. O livro reúne resenhas da história da criação do povo Tikuna (ou povo Magüta), da região do Alto Solimões.
Pedro, que também é professor do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH/UEA), trabalhou na reedição e reorganização da obra no ano passado. Ele assinala que os Tikuna representam a própria criação antes do “mundo dos brancos”, relatando como tudo que é conhecido foi concebido a partir de entidades religiosas e da relação com a natureza. “É um livro para os indígenas produzido pelos próprios indígenas”, destaca.
“Torü Duü’ Ügü” é uma expressão da língua tikuna que significa “Nosso Povo” e traduz a necessidade de se reconhecer que o povo conta sobre a própria história.
Ao elaborar o trabalho, os organizadores focaram em propagar cultura, saberes e patrimônios indígenas do povo Magüta; difundir o material bibliográfico produzido a partir da perspectiva indígena para o ensino da educação patrimonial no sistema de educação público do Estado; e potencializar a divulgação turística do acervo patrimonial indígena do museu Magüta.
Segundo o docente, embora a UEA tenha participado da concepção do material, os principais propagadores do saber do povo Tikuna são os próprios Tikunas. O trabalho executado pelas instituições, professores e pesquisadores revela o compromisso socioambiental com a Amazônia e reconhece a necessidade em dar visibilidade cada vez mais aos saberes dos povos indígenas.
“Assim como os Tikunas, muitos povos de nossa região também merecem que sua cultura, identidade e territórios sejam valorizados. Cabe às universidades cumprirem o papel de popularizar o saber. Divulgar o saber e a cultura do povo é uma pequena parte daquilo que nossas instituições públicas comprometidas com a sociedade regional devem fazer”, alertou Pedro.
O professor comenta ainda que o trabalho em colaboração com os povos indígenas é fundamental para abrir outras frentes de atuação e destacar as capacidades de mobilização política em defesa das culturas, identidades e territórios.
Distribuição para os indígenas – Como uma forma de devolver os resultados gerados pelos trabalhos, 2 mil cópias do livro serão entregues a escolas indígenas. A princípio, as unidades destinatárias se localizam nos nove municípios que compõem a região do Alto Solimões no Amazonas, onde se encontram os territórios do povo Tikuna. Posteriormente, as obras poderão ser distribuídas a outros públicos.
Todo o trabalho contou com a participação de lideranças indígenas, especialistas do povo Magüta e professores bilíngues e tradutores, que possibilitaram a organização das histórias com cuidado e rigor linguístico. A elaboração da obra e a entrega dos exemplares nas comunidades foram possíveis graças à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Amazonas, por meio da Lei Aldir Blanc, via edital Cultura Criativa – Prêmio Feliciano Lana.