Mais popular canal de comunicação da sociedade com a polícia, o serviço emergencial 190 coleciona histórias de salvamentos realizados, por telefone, pelos operadores. Ao mesmo tempo em que auxiliam a polícia a chegar mais rápido nas ocorrências, flagrar e até prevenir a criminalidade, os atendentes também podem se orgulhar de ajudar a salvar vidas de pessoas em situação de perigo.

Atendente do 190 há pouco mais de um ano, o operador Tainã Souza, 28 anos, recorda com simplicidade de seus dias de herói. Nesse tempo de trabalho como operador, já ajudou a salvar, por telefone, duas crianças que estavam engasgadas. A primeira vez foi em dezembro de 2019. Era fim de expediente, quando uma ligação tirou o sossego daquela noite. Do outro lado da linha, uma mãe desesperada pedia socorro para salvar sua filha de onze meses, que estava engasgada.

“A mãe estava muito nervosa, falando que o bebê não estava respirando. Tomei a responsabilidade para mim, e tentei ajudar de alguma forma”, relata. Foram cerca de 20 segundos de orientações, por telefone, quando o alívio veio do outro lado da linha. “Ela felizmente reagiu”, orgulha-se.

Em agosto deste ano, Tainã viveu situação semelhante. Era o fim do expediente vespertino quando outra mãe ligou pedindo socorro para salvar seu bebê, que estava sufocado. “Eu pedi calma e repassei o mesmo procedimento. Ela estava com o telefone, mas quem segurava o bebê era o pai. Aí ela repetia para ele o que eu falava. Até que houve o momento em que a criança chorou, o que era um bom sinal, pois significava que estava conseguindo puxar o ar”, disse.

A urgência é tamanha nesses casos que nem dá tempo de identificar a mãe ou saber se a criança é menino ou menina. A única preocupação é repassar as orientações e salvar vidas.

Para a atendente Dilcinete Guimarães, 39, trabalhar no serviço de utilidade pública é uma forma de ajudar a fazer justiça àqueles que mais precisam. Em 26 de agosto deste ano, a operadora recebeu uma ligação com denúncias de maus-tratos contra crianças. O relato informava que a mãe havia queimado as mãos e os pés do próprio filho, de oito anos, com óleo quente. O caso foi registrado na comunidade Aliança com Deus, bairro Cidade de Deus, zona norte de Manaus.

“A princípio, a gente não acredita. Muitas vezes, a pessoa que liga não está no local e acaba falando coisas que o vizinho contou. Mas eu fiquei acompanhando a viatura e, quando eu vi o que tinha acontecido, a vontade realmente foi de chorar porque a gente fica imaginando quantas crianças estão nessa situação e, muitas vezes, não têm quem ajude”, afirmou.

Mas entre uma história edificante e outra, os atendentes do 190 têm de lidar com trotes. De piadas a ligações para assediar os atendentes, o serviço emergencial 190, do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), recebeu mais de 188,8 mil trotes e ligações ‘por engano’, conforme números da Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM).

“Tudo o que acontece passa pelo 190, nós atendemos e ajudamos a polícia a providenciar. Somos a principal fonte de informação, além de ajudar no combate à criminalidade. Então, queremos destacar essa importância para evitar receber ligações supérfluas e trotes”, explicou o atendente Saidy Dinelly, 26 anos, que, em maio, atendeu o chamado para um caso que chocou os manauaras: o abandono de uma recém-nascida no telhado de uma residência, no Alvorada.

“Foi uma ocorrência que chocou muito as pessoas que estavam envolvidas. A Polícia Militar se deslocou com urgência ao local e a criança foi removida para a maternidade. A responsável pelo abandono foi presa no mesmo dia, mas infelizmente a criança acabou morrendo, seis dias depois”, disse.