Iniciativa foi desenvolvida em unidade de educação especial da rede estadual, e todo o processo de escrita e produção durou cerca de seis meses

FOTOS: Eduardo Cavalcante/Seduc-AM

Os estudantes da Escola Estadual de Educação Especial Manoel Marçal, localizada na zona sul de Manaus, realizaram o sonho de se tornarem protagonistas de sua escola. Os alunos participaram do projeto Super Autor, no qual foram desafiados a contar histórias por meio de desenhos e escrita. No total, 71 autores mirins tiveram suas histórias escolhidas para serem publicadas como livros.

A escola foi selecionada por meio de indicação e, por ser de Educação Especial, foi necessário fazer algumas adaptações no projeto para os estudantes se enquadrarem e desenvolverem a atividade. Todo o processo de escrita e produção durou cerca de seis meses, com os trabalhos iniciando em abril e finalizando em setembro.

Um dos autores é Jonathan Martins, que tem transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista (TEA) e, aos 14 anos, estuda na 5ª série do Ensino Fundamental. Ele diz que foi muito fácil desenhar, mas teve dificuldade na parte escrita.

“Eu fiz os desenhos e teria feito muitos outros, mas a professora disse que eu precisava escrever, e foi o mais difícil pra mim”, conta o jovem autor.

Jonathan Martins, que tem transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista (TEA) e, aos 14 anos, estuda na 5ª série do Ensino Fundamental. FOTOS: Eduardo Cavalcante/Seduc-AM

A pedagoga da escola, Juliana Lima, diz que foi um trabalho em conjunto que envolveu professores, auxiliares, famílias e estudantes. A ação proporcionou visibilidade para a biografia das crianças, visto que, apesar de muitas terem escrito histórias da imaginação, outras retrataram suas próprias realidades e trajetórias de vida.

“Poder escrever a partir de um protagonismo deles fez a gente entender que, enquanto escola, nós estaríamos fazendo uma grande diferença, deixando para a escola, que hoje não tem biblioteca, um pontapé inicial para biblioteca com os livros dos próprios alunos. É uma construção de um legado incrível para nossa escola”, pontua a pedagoga.

Os autores são alunos com deficiências múltiplas e intelectuais, como TDAH, TEA, síndrome de Down e deficiência mental.

Pedagoga da escola, Juliana Lima. FOTOS: Eduardo Cavalcante/Seduc-AM

Processo de produção

O ponto inicial do projeto Super Autor na Manoel Marçal foi fazer a comunidade escolar entender como trabalhar esse projeto com a especificidade de cada turma. Após esse momento, começou a ação de entendimento e convencimento dos pais, para envolver as famílias no processo criativo de cada um. Por meio de leitura de histórias, oficinas, práticas, cada estudante foi compreendendo seu tema e sobre o que queria escrever ou desenhar.

Os alunos com dificuldades de pintar ou escrever receberam ajuda dos professores, pois a proposta é que cada livro tenha 12 páginas, seis laudas com a parte escrita e seis laudas com a parte ilustrada, e nem todos têm autonomia de escrita e desenho. Alguns se expressaram por meio da escrita, outros por meio da pintura, e em cada dificuldade os professores auxiliaram no processo de criação. Todos os professores foram creditados como coautores dos livros.

Dia de autógrafos

Com os livros prontos, eles são anexados ao site do projeto e ficam disponíveis como e-books. O dia dos autógrafos marca o fim do projeto e, para esse dia, a escola firmou parceria com Academia Amazonense de Letras (AAL), que sediará o lançamento dos livros no espaço da Academia, no dia 20 de dezembro.

Com o lançamento, a ideia é mostrar que os estudantes da Educação Especial têm habilidades e precisam de estímulo. A EE Manoel Marçal atende mais de 130 estudantes com deficiência intelectual e múltiplas, funcionando nos turnos da manhã e da tarde.