A obra tem libreto e composições assinadas por João Guilherme Ripper, que esteve no Teatro Amazonas acompanhando a estreia 

Fotos: Marcio James (Secretaria de Cultura e Economia Criativa)

O Teatro Amazonas foi palco, na noite do último domingo (21/05), de mais uma estreia integrando o 25º Festival Amazonas de Ópera. A obra ‘Piedade’ ganha esse nome em referência ao bairro carioca onde acontece o enredo escrito e musicado pelo também carioca João Guilherme Ripper. 

A história se passa no século XX, após o lançamento de um dos maiores clássicos da literatura brasileira, “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, a trama diz respeito ao triângulo amoroso vivido pelo escritor, sua esposa Anna Cunha e o capitão do exército brasileiro Dilermando de Assis.

“É mais uma estreia dentro do Festival e com certeza é uma ópera que vai ter melodias que o público vai gostar e vai entrar na história do Festival”, disse o secretário executivo Cândido Jeremias, que aguardou com expectativa o início da apresentação que contou com artistas nacionais encenando um espetáculo que deve atrair prêmios pelo júri especializado nesta arte. 

“Já é a terceira obra que eu faço no Teatro Amazonas e para mim é muito especial sempre. A ópera tem essa capacidade de falar da gente e transmitir nossa cultura, ela mistura canto e música, teatro, dança, ela tem esse gênero forte, é a coisa mais humana que a gente pode ter em termos de arte”, declarou João Guilherme Ripper, o compositor das partituras e autor do libreto da ópera, nos bastidores. 

Ao final da execução de “Piedade”, o maestro Otávio Simões, regente do espetáculo, declarou estar com sentimento de dever cumprido. “Ainda tem uma semana de Festival, mas fazer uma obra brasileira num momento tão importante deste Festival com o compositor presente, vivo, falando da história do nosso país é a sensação de que realmente estava tudo alinhado com as estrelas, digamos assim”, disse Otávio.

O ator que dá vida a Euclides da Cunha, Homero Velho, também falou sobre a importância dessa entrega para sua carreira. “Eu venho desde 2003 no Teatro Amazonas, me sinto super em casa, com ‘Piedade’ foi a primeira vez. Foram quatro óperas apresentadas durante o Festival Amazonas de Ópera e essa foi a primeira cantada em português e isso tem uma certa importância, não podemos deixar isso passar em branco”, salientou o ator.

“A relação do Norte com o Nordeste remonta desde os trabalhadores nos seringais tem uma relação aí bastante íntima, essa ópera conseguiu combinar várias coisas diferentes dentro de um Festival que é muito especial”, finalizou Homero.

Anna da Cunha

Fotos: Marcio James (Secretaria de Cultura e Economia Criativa)

A obra retrata o romance de Anna da Cunha com Dilermando de Assis durante o período de ausência de seu marido, Euclides da Cunha, com quem teve um filho chamado Manoel Afonso. A batalha de canudos, a menção a Antônio Conselheiro e a forte presença da literatura nordestina e brasileira se misturam com o teor cotidiano e pessoal de figuras historicamente importantes para o país.

O “famoso escritor paladino da república”, como é conhecido Euclides, se vê obrigado por missões patriotas a deixar o lar. Anna alimenta em si, nos primeiros prólogos, uma esperança de reencontrar o marido. O encontro de Euclides com Dilermando acontece no Porto no terceiro ato da obra, neste encontro é sentida a dualidade dos dois personagens: da perda consequente de uma ausência na circunstância de uma viagem e a expectativa de quem acabou de chegar e conhecer “Saninha”, apelido de Anna da Cunha.

A atriz que a interpreta Anna, Gabriela Pace, realizou viagens até os locais onde viveu a personagem para uma pesquisa que a fizesse ter a imersão necessária para dar vida à personagem. “Eu li a biografia escrita pela neta dela, acabei indo pra São José do Rio Pardo pra ver onde ela tinha morado com Euclides, ele foi fazer uma construção de uma ponte e no meio dessa construção ele escreveu, num delírio, ‘Os Sertões’ numa cabana e a gente viu essa cabana, isso acabou me dando muito material emocional para construir a Anna”, conta Laura.

“A Anna foi uma mulher que se casou por amor com Euclides. Então, eles realmente se apaixonaram, ele era um homem mais velho que ela, só que o casamento foi um desastre, ele não era bom de convivência e ela sofreu muito com ele indo embora. Ele a deixava sem dinheiro e, numa dessas, ela acabou encontrando e se apaixonando também por esse homem idealizado”, descreve a cantora lírica e atriz.